O clima de aversão ao risco que dominou o cenário externo, após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizar uma possível retirada de estímulos econômicos e abandonar sua política de juros baixos antes do que previa o mercado, fez o dólar apresentar forte alta ontem. A moeda americana subiu 2,29% no balcão, maior valorização diária dos últimos seis meses, batendo os R$ 1,79, cotação mais alta desde setembro.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou o nervosismo internacional, com seu principal índice, o Ibovespa, fechando em baixa de 2,27%.
Segundo especialistas, à apreensão no mercado internacional somaram-se o fluxo negativo das tradicionais remessas de lucro de fim de ano das empresas e a desvalorização do euro, que abriu caminho para a perda de valor de outras moedas, como o real. "Estamos vendo uma reversão do movimento de desvalorização do dólar dos últimos meses. O grande motivo para isso são os últimos dados da economia americana terem saído mais robustos do que o esperado, enquanto os dados da Europa decepcionaram um pouco mais", afirma a economista-chefe da Link Corretora, Marianna Costa.
Para o economista Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, o mercado cambial ganhou expressivo volume financeiro nos últimos dias, por causa de compras destinadas a remessas de lucros e dividendos ao exterior dada a proximidade do encerramento do ano e também de empresas importadoras, que querem aproveitar o preço atual uma vez que há expectativa de ajuste de alta da moeda no começo de 2010. "Os players no mercado futuro estão reforçando as apostas no avanço do dólar porque há percepção no mercado de que o real, que foi a estrela entre as moedas de países emergentes em 2009, começa a se fragilizar como divisa para especulação."
Esses ajustes levaram o Ibovespa a uma queda de 2,27% no pregão de ontem, com 67.067 pontos. Com isso, o índice se afasta do patamar dos 70.000 pontos em torno do qual oscilou na última semana. Além de sentir o nervosismo externo, a bolsa brasileira ainda foi atingida pela queda no preços das commodities, por meio das ações das "blue chips" (papéis mais negociados na bolsa) Vale e Petrobrás. A possibilidade de o Fed vir a subir juros mais cedo do que esperava o mercado, com a melhora dos indicadores nos EUA, diminuiu a disposição de compra de ações, afirmam os especialistas.
O mercado também foi pautado ontem pela divulgação da ata do Comitê de Política Monetário. O comunicado veio em tom mais ameno do que esperavam os investidores. "A ata mostrou que o Copom não tem pressa em puxar o gatilho para subir juros, embora o caminho para essa decisão pareça estar cada vez mais claro", disse o estrategista da Nomura Securities, Tony Volpon.