Apesar das ações do governo brasileiro, o real terminou o ano como a moeda que mais se valorizou em relação às principais divisas globais (dólar, euro, iene, libra e franco suíço).
Segundo levantamento feito pela Bloomberg com 51 das principais divisas globais, o real lidera a lista de alta na comparação com todas as principais moedas que compõem o comércio global. Mesmo Austrália e Coreia do Sul, países que, ao contrário do Brasil, conseguiram evitar a recessão econômica, não tiveram altas tão expressivas de suas moedas.
Na comparação com a moeda dos EUA, o real acumula alta de 33,9%, seguido pelo dólar australiano e pelo rand, da África do Sul. A maior valorização, porém, ocorreu em relação ao iene: 35,6%. A menor, de 21%, foi registrada ante a libra. A alta do real na comparação com o euro foi de 29,6%.
Parte da explicação se deve ao bom momento da economia brasileira (uma das primeiras a sair da recessão), o que atrai investidores estrangeiros, e às preocupações com os países desenvolvidos, que, em sua maioria, saíram da crise com suas contas desajustadas, depois de gastarem trilhões de dólares para conter o declínio.
Outro fator são os juros altos. Os investidores internacionais, em um movimento chamado "carry trade", estão se aproveitando dos juros muito baixos nos países ricos (nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa é a menor da história) para pegar empréstimos e reinvestir o dinheiro em ativos -moeda, ações etc.- de países com taxas mais altas.
A alta do real é prejudicial sobretudo para o setor exportador, na medida em que os produtos brasileiros se tornam mais caros no exterior (são necessários mais dólares para adquirir a mesma quantidade em real), prejudicando sua competitividade.
E a previsão é que a tendência de valorização do real continue no ano que vem, mesmo com as intervenções do governo brasileiro, que, em outubro, implantou a cobrança de 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre capital estrangeiro -além das aquisições de dólar por parte do Banco Central, que colaboraram para que as reservas internacionais saltassem de US$ 206,8 bilhões, no fim de 2008, para US$ 238,7 bilhões, até anteontem.
O banco americano Goldman Sachs afirmou, no dia 15 deste mês, que não há sinais no curto prazo de que o real vai deixar de se apreciar, especialmente em relação ao dólar. Para a instituição, a moeda brasileira só deve sofrer pressões "consideráveis" do dólar a partir do segundo semestre de 2011 -isso na previsão mais otimista.
No estudo, o banco disse ainda que o real é a moeda mais sobrevalorizada do mundo e que essa alta se deve aos bons resultados da economia do país, enquanto o mundo desenvolvido ainda patina